Publicação internacional exaltou a iniciativa que valoriza o legado do escultor paranaense João Turin
O espaço dedicado ao maior representante animalista brasileiro – João Turin – foi destaque no site do The Art Newspaper, uma das publicações mundiais mais conceituadas do universo da arte.
Confira a publicação original, em inglês, pelo link: //www.theartnewspaper.com/news/brazilian-sculptor-joao-turin-memorialised-with-sculpture-park-in-parana
Abaixo, a tradução do texto:
Escultor brasileiro João Turin é homenageado com parque de esculturas no Paraná
O local vai “estimular um desenvolvimento sustentável que valorize a fauna e a flora do meio ambiente brasileiro – temas aos quais Turin dedicou sua vida”, afirma o colecionador e empresário Samuel Lago.
O falecido escultor brasileiro João Turin, pioneiro do movimento do Paranismo que buscou forjar uma identidade visual para o estado subtropical do Paraná na década de 1920, será homenageado com um parque de esculturas que visa exaltar suas contribuições à arte brasileira.
Em um momento em que as comunidades indígenas e a floresta tropical brasileira estão cada vez mais ameaçadas sob o governo do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, a obra de Turin ganha uma nova pertinência por sua “inspiração a temas de natureza e cultura nativa”, diz Samuel Lago, o empresário brasileiro que detém os direitos sobre seu arquivo e iniciou o projeto.
Além da preservação cultural, o local também servirá para “incentivar o turismo, trazer mais recursos para a cidade e estimular um desenvolvimento sustentável que valorize a fauna e a flora do meio ambiente brasileiro – temas aos quais Turin dedicou sua vida”, diz Lago.
A peça central do memorial no Parque de São Lourenço é a escultura de 10 pés (3 metros) de altura Marumbi, que mostra duas onças em combate e leva o nome do Parque Estadual do Pico do Marumbi, um Patrimônio Mundial da Unesco onde espécies nativas historicamente enfrentaram a perda de habitat devido a extração ilegal de madeira e mineração. Todo o parque de esculturas terá 78 obras quando for inaugurado no final de março, e cerca de uma dezena de esculturas já estão em exibição.
Turin nasceu em 1878 em Porto de Cima no estado do Paraná e mudou-se ainda criança para Curitiba, onde trabalhou como ferreiro e marceneiro antes de se aprimorar na escultura. Recebeu bolsa do governo em 1905 para cursar a Academia de Artes de Bruxelas, na Bélgica e viajou pela Europa até desembarcar em Paris em 1911, onde morou e trabalhou com outros artistas brasileiros, como o escultor Victor Brecheret e o pintor Tulio Mugnaini.
Embora haja poucos registros conhecidos de sua produção durante seus anos em Paris, Turin muitas vezes expôs no Salon des Artistes Français, onde obteve uma menção honrosa, e conheceu Auguste Rodin, a quem mais tarde retratou em baixo-relevo. Ao retornar ao Paraná em 1922, o artista – então fortemente inspirado pela escultura simbolista francesa – embarcou na era mais prolífica de sua carreira, produzindo centenas de figuras de gesso e bronze de temas brasileiros emblemáticos, particularmente muitas representações agudamente observadas da cultura indígena e de animais nativos.
“A arte dele está na veia de cada paranaense, marcando uma parte importante da história e da identidade do povo”, diz Lago. “E na escultura animalista – que foi elevada ao status de grande arte no século 19 por artistas como o francês Antoine-Louis Barye – Turin é um dos escultores mais importantes entre os brasileiros.”
A grande retrospectiva João Turin: Vida, Obra, Arte, no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, foi uma das mostras mais visitadas do mundo em 2014, atraindo mais de 266 mil visitantes, segundo pesquisa realizada pelo The Art Newspaper. O museu Pinacoteca em São Paulo também realizou uma grande exposição dedicada à obra de Turim em 2016, que explorou suas contribuições essenciais para o movimento do Paranismo e sua carreira, que durou quase cinco décadas.
Turin também alcançou vários marcos póstumos. Em 2015, sua escultura O Frade (por volta dos anos 1930) foi entregue ao Papa Francisco pela ex-presidente Dilma Rousseff na primeira visita do pontífice ao Brasil. A estátua, que retrata um frade lendo um livro, é um raro exemplo de um artista brasileiro mantido na coleção de arte do Vaticano.
Turin morreu em 1949, mas seu legado “ajudou a compor o mosaico das diversas manifestações artísticas que se desenvolveram no Brasil nas décadas seguintes, quando intelectuais, letrados e artistas desempenharam papéis fundamentais para se tornarem os principais arquitetos da identidade cultural”, diz Lago.
Lago, que mora em Curitiba e se autodenomina admirador da obra de Turin, adquiriu o arquivo do artista em 2011, que contém 360 obras de gesso, pinturas, fotografias, esboços, cartas e outros materiais. Lago espera tornar a obra de Turin mais visível no Brasil e no exterior e pretende expandir o acervo com obras inéditas em bronze a partir de maquetes de gesso, algumas que serão doadas à Casa João Turin, museu dedicado ao artista em Curitiba.