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João Turin (1878-1949) é hoje considerado o maior escultor animalista do Brasil devido à forma como retratou onças, aves e outros animais com extremo realismo. No entanto, seu legado artístico contempla também uma diversidade de figuras humanas e outros temas, não só na arte escultórica, mas também em pinturas, desenhos e até em projetos de design.  

Nascido em Morretes (litoral do Paraná), mudou-se ainda menino com sua família para a capital Curitiba, onde começou a se dedicar às artes. Conquistou em 1906 uma bolsa para estudar na Academia Real de Belas Artes de Bruxelas (Bélgica), onde foi aluno de grandes mestres. Após concluir o curso, continuou vivendo na Europa, principalmente em Paris, no mesmo período em que a capital da França era frequentada por grandes artistas (entre eles, Picasso, Modigliani, entre outros). Lá expôs em importantes salões de arte e montou um ateliê no badalado bairro de Montparnasse, até retornar ao Brasil em 1922, onde passou o resto de sua vida. 

Após sua morte, em 1949, suas obras foram guardadas por familiares, até serem adquiridas pela Família Ferrari Lago, que assumiu a responsabilidade pela gestão do acervo de Turin, realizando um resgate de ponta a ponta de seu legado artístico. Trabalho, até então, sem precedentes no campo das artes local. Das mais de 400 obras que João Turin deixou, hoje 100 delas estão em exibição permanente no Memorial Paranista, administrado pela Prefeitura de Curitiba, além de ter esculturas em locais públicos (do Paraná, Rio de Janeiro e França) e em acervos de 15 museus e instituições do Brasil. O ano de 2024 marca os 10 anos da realização da grandiosa exposição “João Turin: Vida, Obra, Arte”, a mais visitada da história do Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba. Com 266 mil visitantes, ficou em cartaz por 8 meses, foi citada em um ranking da revista britânica The Art Newspaper e premiada pela ABCA – Associação Brasileira de Críticos de Arte.  

Conheça algumas das principais obras deste importante artista: 

1. Marumbi

marumbi

Uma das mais conhecidas obras animalistas de João Turin, que mostra o embate entre duas onças. Além de ser uma escultura imponente, possui uma grande carga simbólica e nostálgica: recebe este nome pois o seu contorno remete ao relevo do Pico Marumbi, na Serra do Mar, uma paisagem que fazia parte da infância de Turin, quando ainda morava em Morretes (PR). A obra é o destaque principal do Jardim de Esculturas do Memorial Paranista, presente em uma ampliação em proporção heroica, com quase 3 metros de altura e 700 quilos. 

2. Pietá 

pietá

Dado como perdido por quase 70 anos, este baixo-relevo de temática sacra foi esculpido em pedra, em 1917, na Igreja de Saint Martin, em Condé-surNoireau, na Baixa Normandia (França). A escultura sobreviveu aos bombardeios da 2ª Guerra Mundial, que arrasaram a cidade em 1944, mas a obra permaneceu intacta, como que por milagre. “Pietá” foi localizada em 2013 e só então foi possível realizar o molde para fundi-la em bronze no Brasil. Hoje, este exemplar pode ser apreciado no Memorial Paranista. O resgate artístico foi registrado no documentário “A Pietá de João Turin”, disponível no canal de Youtube Ateliê João Turin. 

3. Luar do Sertão 

luar do sertão

A grande inspiração de João Turin para o estudo da anatomia animal eram as onças do Passeio Público, primeiro zoológico de Curitiba, que o artista visitava constantemente. Fazia rápidos esboços dos animais, para depois, em seu ateliê, realizar esculturas em argila a partir dos croquis. A obra “Luar do Sertão” (originalmente intitulada “O rugir do tigre”) foi premiada no Salão Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, em 1947, com medalha de ouro. Esta escultura faz parte da paisagem do Centro Cívico, em Curitiba, e da Praça General Osório, na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. 

 4. No Exílio

no exílio

Quando morou na Europa, João Turin teve suas obras prestigiadas em importantes eventos de arte. Sua primeira escultura de grandes proporções, “No Exílio” (realizada em Bruxelas como trabalho de conclusão de curso), recebeu menção honrosa na Feira dos Artistas Franceses, em 1912. Turin não pôde trazê-la para o Brasil e a obra foi perdida. Em 2022, a artista Luna do Rio Apa realizou uma releitura em gesso, com 2,70m de altura e mais de 300 quilos, fiel às proporções originais. Graças a parceria firmada entre a Família Ferrari Lago (detentora dos direitos patrimoniais de João Turin) e a Prefeitura de Curitiba, a obra foi fundida em bronze e inaugurada no Jardim de Esculturas do Memorial Paranista em 21/09/2023, no aniversário de 145 anos de João Turin. 

5. Tigre Esmagando a Cobra

tigre esmagando a cobra

Em quase 50 anos de carreira, João Turin imortalizou animais selvagens ou domésticos, em especial grandes felinos como a onça, o tigre e até o leão, retratados em diversas situações. Uma destas obras mais conhecidas é “Tigre Esmagando a Cobra”, que rendeu sua primeira premiação no Brasil, quando ganhou medalha de prata no Salão Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, em 1944. Nesta mesma cidade, a obra pode ser vista no Zoológico da Quinta da Boa Vista. Está presente também em Curitiba, na Av. Manoel Ribas (próxima a Santa Felicidade, conhecido local turístico) e no Memorial Paranista. 

6. Cacique Guairacá

cacique guairacá

João Turin representou os povos indígenas em algumas dezenas de obras. Segundo seu biógrafo, José Roberto Teixeira Leite, Turin afastou-se das representações idealizadas do Romantismo brasileiro. “Ele buscou retratar em seus hábitos e costumes o primitivo senhor de uma terra que lhe foi usurpada”, escreveu o pesquisador. A principal obra desta temática homenageia o Cacique Guairacá, que combateu a colonização europeia na região de Guarapuava, cidade paranaense que tem um exemplar desta escultura em um espaço público desde 1978. A obra também pode ser apreciada no Memorial Paranista, em Curitiba.  

 7. Tiradentes

tiradentes

Além de “No Exílio”, João Turin executou na Europa outra obra de grandes proporções: uma escultura de Tiradentes, o mártir da inconfidência mineira, que foi exibida no Salão dos Artistas Franceses, em Paris, em 1922, pouco antes de Turin retornar ao Brasil. Apesar de sua grande estatura, com 2,30 m de altura, o artista embarcou esta obra em um navio quando retornou ao Brasil. Desde 1927, “Tiradentes” pode ser visto pelo público que passa pela praça do marco zero no Centro de Curitiba.